Tempos que vêm


Bombardeados, diariamente, por tempestades de pessimismo e revolta, não somos capazes de enxergar muito além. O desespero nos arrasta, e o desconsolo é a única coisa a sobrar.

É preciso, contudo, estarmos atentos ao horizonte que sempre se abre depois de nuvens carregadas se dissiparem. Elas vêm e vão, nunca permanecem para sempre.

Assim são nossos problemas: sempre cessam.

As dificuldades que a vida nos traz não são ao acaso, muito menos por simples sadismo.

Fazem-nos fortes a cada dia, a ponto de olharmos para trás, hoje, e percebermos que os reveses do passado não mais nos amedrontam.

Seriam pequenas pedras no presente...

De tal maneira devemos olhar as tempestades que nos visitam... São elas que nos engrandecem e permitem que as metamorfoses íntimas se realizem.

E os Tempos que vêm são certezas de êxitos e venturas, pois, se a cada dia nos tornamos maiores, haverá momento em que tudo estará bem.


Tudo estará bem.


Opostos não combinam

Não há sentido algum no uso da lógica eletromagnética para nortear relações entre seres humanos, dotados de coração, e não de ímãs metálicos dentro do peito.

Parece tão óbvio, porém é, ao mesmo tempo, difícil de enxergar: da mesma forma que procuramos pessoas afins para serem nossos amigos, logicamente, deveríamos buscar relacionamentos amorosos também afins.

Flávio Gikovate, psicoterapeuta brasileiro, dizia que “as relações amorosas de qualidade devem se dar entre pessoas parecidas.” “Opostos se atraem, mas não combinam.”

Por isso, há metáfora da alma gêmea, não da alma oposta... Nossa natureza pede mais tranquilidade nos relacionamentos, porém nossa incapacidade de sermos felizes ainda nos coloca em armadilhas cruéis...

Pessoas que não se conhecem não conseguem distinguir a melhor companhia para si mesmas.

Queixam-se, diariamente, do insucesso no encontro de parceiros ou parceiras amorosos, seja por falta de afinidade, seja por qualquer outro motivo. Não param para pensar no que realmente estão buscando, pois, ao invés de darem atenção à combinação, retêm-se à atração.

É forçoso entendermos que a busca e a manutenção das relações amorosas nos requerem trabalho interior: o autoconhecimento. Resultado da falta deste são os inúmeros divórcios, precoces ou não, que aumentam a cada dia...

A inteligência nos clama, portanto, a mudarmos nosso jeito de ser, pelo fato de o atual modo de pensar não nos conduzir à construção de vidas bem estruturadas ao lado de outrem.


É impossível conhecer o outro sem nos conhecermos, e mais impossível ainda enxergar o que combina conosco se não sabemos o que somos.


O Eu no Outro

Escrito pelo grande amigo Nando. --

Relacionamento, do latim, relatus significa levar consigo. Desse modo, especialmente numa relação amorosa, antes de levarmos algo doutrem é essencial estarmos preparados para carregar essa bagagem.

O autoconhecimento é fundamental num relacionamento. Isto é, antes de ir até o outro é necessário se encontrar consigo.

A relação a dois não passa de uma grande troca: é preciso saber o que ter a oferecer e o que buscar no outro; saber quais são meus limites e anseios para não deixar que o outro os ultrapasse ou impeça meu crescimento; saber o que nos falta e o que posso oferecer, o que devo evitar e o que devo reforçar para completar o "nós".

Isso acima de tudo é questão de sinceridade para com nosso "eu" e doutro alguém.

Ademais, é questão de empatia!

E não há como se colocar no lugar do outro sem ao menos saber onde estamos...


Ciúme não é legal

Ciúme não é legal. Ciúme não é agradável, nem bonito para quem vê de fora. Ele é pesado e tóxico.

Há uma diferença muito grande entre se importar e ter ciúmes.

Falta de confiança adoece relações. Motivos para desconfiar adoecem mais ainda...

Pratica-se, comumente, o ciúme para com o outro a fim de chamar atenção, pedir carinho. Olvidam o fato de que esse comportamento gera conflitos desnecessários, e a relação entre as pessoas passa a ser tensa e degradada.

Por que não pedir, com palavras doces e honestas, a atenção de que se necessita?

Por que fazer, como crianças mimadas, enredos dramáticos e chantagistas a fim de dar continuidade a uma relação abusiva e indireta?

Necessitamos de mais leveza...

Buscar pessoas cuja companhia é equilibrada e lúcida nos preenche.

O êxtase doentio finda, a deixar apenas cinzas.

A possessão leva à ruína emocional.

O segredo da felicidade é o equilíbrio. Numa relação, isso não seria diferente.

Somos fadados a uma vida feliz sempre!


Merecemos mais bondade.


Tudo está bem agora

- Tudo está bem agora, tudo está bem agora... - repetia, incansavelmente, a avó ao garotinho assustado com os trovões lá de fora.

A cada clarão, parava o coração. Ganhava vida de volta, pouco antes do barulho sucessor, para congelar novamente.

Lá fora, tempestades assombrosas provocavam os moradores da casa, ao baterem no vidro da janela, anunciando a escura presença.

E a avó, sabedora das coisas, e por um dia não ter sido, continuava:

- Tudo está bem agora, tudo está bem agora...


Decerto sua voz não era mais alta que os trovões, nem mais forte que a fúria da chuva, porém a docilidade de seu coração era capaz de acalmar as mais densas preocupações do neto, a fim de que, um dia, ele o fizesse a outro alguém ameaçado.


O Coração carece

Um violino sem uso requer renovação de cordas, afinação e limpeza, pois, sem esses cuidados, não é possível reproduzir seus mais belos sons. Assim se encontra o coração da humanidade: estragado, desafinado e sujo...

Ao longo dos anos, é comum perder, meio a estressantes rotinas, a direção para uma vida mais tranquila, caridosa e realmente feliz. As recompensas falam mais alto, o homem se esquece quem realmente é. Olvida os bons momentos que já passou quando realmente alimentara seu coração. Ao invés disso, pragueja, de norte a sul, pela vida infeliz que leva.

Não mais podemos atribuir a própria infelicidade a outrem, à divindade... Caso não queiramos acreditar que somos responsáveis por todos os acontecimentos de nossas vidas, a outra alternativa é, da mesma forma, irredutível: somos totalmente responsáveis pelo modo com que enfrentamos as coisas da vida.

O bem-te-vi poderia desistir de viver ao ter seu ninho destruído por predadores. Pelo contrário, o pequeno pássaro nunca desiste, volta a reconstruir sua casa e retorna a dar vida. Que seria da Natureza se não houvesse a nova tentativa, o reparo?

O coração carece de instrução, carece de cuidados. Ele, provavelmente, sofreu desapontamentos, destruições, como o ninho dos pássaros... Todavia, como parte de uma imensa Natureza, também como os pássaros, somos inteiramente capazes de renascer, seja sozinhos ou na companhia de pessoas amadas.


Coração significa amor. Se não o é, ainda não é coração... Amor é seu destino único e inevitável.


Ser Humano

Ante a morte de uma pessoa querida, porém não tão próxima de ambos, pai e filho compartilhavam suas impressões e sentimentos. Até que, em dado momento, o filho indagou:

- Mesmo não sendo próximo a ele, sinto tanto por sua morte... Era uma pessoa de bem, havia tanto para contribuir... Sentir isso faz de mim um bom ser humano?

O pai, num sorriso justo, deu sua resposta singela:

- Isso te faz ser humano.


Resista um pouco mais, mesmo que as feridas latejem e que a sua coragem esteja cochilando.
Resista mais um minuto e será fácil resistir aos demais.
Momentos de Meditação. Ed. LEAL 

Dores da Alma

É comum encontrar-se em momentos de melancolia. Não é preciso um acontecimento ou companhia para que a tristeza sem face bata na porta do coração. Entardeceres depressivos quando o choro se faz melhor alento... Madrugadas sem sono por uma dor que não se nomina...

O ser humano, em seu universo mental, padece de sofrimentos cujas causas ainda não é capaz de desvendar. Quando pequenos problemas desencadeiam reações terríveis, deve-se ter a certeza de que suas razões são outras maiores e desconhecidas...

Assim sobrevive a humanidade: repleta de chagas de origens desconhecidas. As emoções são afogadas e anestesiadas no desespero desconsolado... E tudo perde o sentido numa existência tomada pelo desencanto de viver.

Motivos vários, solução única.

O trabalho no bem sempre fora terapia sublime para as Dores da Alma.

Ele ensina e dignifica o ser. Dá a este condições de desenvolver nova óptica acerca de sua existência, ponderar seus hábitos e regenerar seus pensamentos.


O esforço pelo próximo e a busca pela saúde espiritual, a olvidar as futilidades terrenas que desviam o caminho edificante, é enobrecedor: expurga da alma todas as suas dores, e a eleva.


Considerações sobre tempo e amor

Há tantas coisas que requerem um tratamento a longo prazo com um dos mais potentes remédios: o tempo. Ele é capaz de operar milagres nas relações do ser com o outro, do ser com o mundo, e, a mais importante, do ser com ele mesmo. Não se vive bem sem haver paz no mundo interior.

William Shakespeare afirmou, de modo doce e sábio, que “o amor, e não o tempo, é que cura todas as feridas.”

Eu me atreveria dizer que nenhuma das duas teses comportam toda a verdade. O tempo sem o amor é como um idoso ocioso, desejante de criar, porém sem energias e disposição para isso; e o amor sem o tempo, como um mancebo, repleto de sonhos e potencialidades, porém sem a experiência que alguns anos de vida poderiam lho conceder...

Certa feita, a psicanalista Niracema Kuriki  declarou, conformada, que “o tempo sempre será o tempo...”. Não há como dele fugir, ou ele dilatar, contrair... Esse severo amigo, além de nos trazer rugas, preocupações e dores, também nos presenteia com os sonhos, as experiências, os ensinos...

Podem se solidificar todas as coisas primariamente agradáveis que o tempo nos traz. Todavia, meu caro amigo ou minha cara amiga, apenas com o amor é que o sonho se torna realidade; as experiências, sabedoria; e os ensinos, aprendizado.

E, assim, o tempo passa... Sendo ele mesmo... Sempre. Não importa quantas rugas tivermos, quantos títulos carregarmos, quantas honras recebermos ou quantos feitos realizarmos. Se não houver amor, de nada valerá.


Empatia: o caminho para a felicidade

Nós tememos sentir! Vivemos em uma época em que as pessoas têm medo dos sentimentos. Evitamos o contato conosco mesmos a fim de não vivenciarmos as dores, as dúvidas, os desejos e outras tantas emoções. E, de modo óbvio, se não encaramos nossos próprios sentimentos, nossa capacidade de sentir empatia torna-se quase extinta, e tal fato nos impede de sermos felizes.

Colocarmo-nos no lugar do outro é podermos identificar nossa humanidade: todos nós temos individualidades, problemas, alegrias. Desse modo, entender a emoção do outro é primordial para que saibamos dar nome ao que sentimos. Como ser humano, percebo a dificuldade em nos vermos no próximo, e a empatia é a forma de lutarmos contra esse isolamento.

Além disso, sentirmos o que o outro sente é um pré-requisito para que façamos o bem, e, como sabemos, a bondade que se faz também é benéfica para nós. Isto é melhorar nossa vida: buscar a felicidade no contato com o sentimento de outrem, mesmo que seja a dor, pois, como pensou Camões, "menos se teme a dor quando se sente".



Meu nome é Caridade,
Emissária de Deus a toda humanidade:
(...)
Minha missão é amar. Amo o templo e amo a escola,
Amo o bem que alivia, amo o bem que consola.

Guerra Junqueiro