Na janela de seu sobrado, estava Helena debruçada no parapeito, admirando o cenário, como de costume. Seus cabelos iam e vinham com o balanço do vento, que chacoalhava também as folhas das árvores, e derrubava aquelas que não mais se agarravam ao pecíolo com tanta força.
A garota, imóvel, dividia-se entre a cama e a janela. Joelhos sobre o travesseiros, peito e braços na beira da janela. Era confortável.
Adiante, via o frondoso Pessegueiro que há muito morava no jardim de seu vizinho. Seu tronco era espesso, seguro. Apoiava os longos galhos, os quais sustentavam o peso dos frutos carnosos.
Contudo, Helena passou a focar-se em um acontecimento rotineiro, observado, anteriormente, com certa frequência.
Um dos galhos era longo demais e atingia a janela de outra casa vizinha. Em dias de brisa forte como aquele, o galho arranhava o vidro, causando certo desconforto no residente.
O homem, após períodos de tolerância, perdia a paciência e podava o longo braço do Pessegueiro. Golpes de fúria eram desferidos contra a árvore, por ele, na ausência de seu dono.
Helena recordava-se das inúmeras vezes que havia se machucado, demasiadamente, na tentativa de colher alguns daqueles pêssegos. Eram deliciosos, e não os via todos os dias em sua mesa, muito menos sentia-os o gosto.
Sensações de inconformismo e revolta transitavam por seu coração, levando embora a brandura, ao deparar-se com tais cenas, que se tornavam comuns.
Como seria aquilo possível? Alguém que recebia deliciosos frutos, levados até sua janela, de muito bom grado, pelos braços da Mãe Natureza, além de não os desfrutar, atentava contra sua fonte.
Helena, em seu lugar, receberia tais benefícios de bom grado, e cuidaria do produtor como se fosse seu. Era triste ver aquele deplorável cenário. Desistiu de assisti-lo.
Naquele momento, sentiu uma lágrima chorar de seus olhos até o queixo. Enxugou-a com as mãos e virou-se para seu quarto. Desejou chorar mais e mais, porém, conteve-se. Ainda havia de entender que, por enquanto, nem todos são capazes de gozar das boas oportunidades. Por enquanto...
Muito bonita essa mensagem, nos faz refletir o quanto nós, as vezes, somos ingratos pelo aquilo que a vida nos traz.
ResponderExcluirDe fato, ainda somos muito ingratos, desejantes de melhorar!
ExcluirObrigado pelo seu comentário!
muito bom
ResponderExcluir